Congresso 2020: Negociações de alta frequência se descolam da imagem de causarem distorção no mercado
Executivos rebatem a ideia de que as HFTs, operações de compra e venda de ativos por meio de algoritmos, levam a uma “liquidez fantasma”O uso de tecnologias de negociação de alta frequência no mercado de ações, conhecida por HFT (High Frequency Trading), muitas vezes é associada a um aumento da volatilidade dos mercados e à criação de uma “liquidez fantasma”, ao distorcer os números pelo grande volume de operações feitas em segundos. A ideia de que as HFTs não têm esse impacto nas negociações e não causam prejuízos foi o ponto central do painel dedicado ao tema, realizado nesta quinta-feira (26) no Congresso Brasileiro de Mercado de Capitais, evento organizado pela ANBIMA e pela B3.
Jan Boomaars, CEO do Grupo Optiver, aguarda, até hoje, um “estudo sério” que comprove a relação entre negociações com alta frequência e distorções de mercado. “Chegamos a observar ao contrário: quando deixamos algum local em que atuávamos com frequência, observamos que a volatilidade sobe”, comenta. “Claro que, em momentos de estresse, os spreads sobem, mas pelo aumento da incerteza e diminuição dos players. Não tem nada a ver com a presença de HTFs no mercado”, acrescenta Boomaars em resposta ao questionamento feito por Tilman Lueder, responsável por mercado de capitais na Esma, autoridade europeia de valores mobiliários.
A resposta de Troy Kane, chefe de Derivativos Globais e Desenvolvimento de Renda Fixa, Câmbio e Commodities na Citadel Securities, sobre as suspeitas de que os HTFs prejudicam a formação de preço, foram na mesma direção do executivo da Optiver. “Alguns trabalhos que associavam volatilidade e negociações com alta frequência têm mais de dez anos, são ultrapassados. Hoje, tem muito mais investidor operando com algoritmos e ainda assim os spreads são mais justos com mais liquidez e mais transparência”, comenta Kane. Ele também considera um equívoco o uso do termo “liquidez fantasma” para se referir a um aumento da liquidez, pelo uso de HTFs, de maneira enganosa. “Na Citadel, atuamos em mais de 35 locais no mundo, são milhares de instrumentos sendo negociados todo dia. Entregamos a melhor precificação e qualidade da execução de uma ordem ao nosso cliente. Geramos valor”, diz.
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Segundo Lueder, o volume de operações na Europa com HTFs passa perto de 60% em ações. “No Brasil, chega a 35% e está crescendo rapidamente. É um tipo de negociação que favorece a liquidez e ajuda a mercados como o do Brasil a se desenvolverem”. Boomaars menciona o forte desenvolvimento no país. “Nós fomos os primeiros formadores de mercado que entraram no Brasil, há dez anos, quando a bolsa tinha Vale e Petrobras, basicamente. Ao longo deste tempo, trabalhamos muito com a B3 e o regulador para que o mercado local fosse atrativo ao estrangeiro, o que aconteceu”, conta.
A diferença entre a realidade brasileira, com as negociações centralizadas em uma única bolsa, e os mercados americano e o europeu, com vários players, foi lembrada pelos participantes. “Um modelo fragmentado como o americano tem pros e contra, é mais competitivo e tem muitos concorrentes, o que é bom. Mas o essencial, sendo um mercado fragmentado ou não, é que a informação esteja disponível em um único local de forma transparente”, comenta Lueder, acrescentando que isto ocorre no Brasil com apenas uma bolsa.