Começar aos poucos e buscar parcerias são caminhos para inovação aberta em instituições financeiras
Conheça mais sobre a inovação aberta e como implementá-la nas empresasComo conciliar o fomento à inovação com o dia a dia operacional da companhia? Estar antenado com o que acontece no mundo torna-se cada vez mais fundamental para que as companhias não sejam “atropeladas” pela transformação digital que está ocorrendo em um movimento bastante acelerado. Esse foi uma das questões em pauta no primeiro evento da Jornada de Inovação Aberta, realizado na última quarta-feira, dia 12.
“Inovação corporativa é criar a possibilidade de confronto com a ambidestria corporativa; é ter de lidar com o que estou vivendo agora para o negócio seguir sobrevivendo versus o que tenho para implantar de novo; e, qualquer que seja a tecnologia nova que esteja surgindo, ela vai transformar o mercado. Um dos caminhos é construir uma esteira de inovação”, salientou Naiara Corrêa, líder de open e intra innovation no Banco Carrefour, abordando a importância da inovação aberta e como implementá-la nas empresas.
Por onde começar
A trajetória para a inovação corporativa começa com um trabalho cultural e de aprendizagem. Para ter sucesso, é preciso que a liderança — presidência e diretorias — esteja engajada, porque, se não comprarem a ideia, dificilmente ela vai florescer e entregar resultados. “O CEO tem de colocar a inovação como parte da cultura da empresa. E inovação não é fazer o novo Airbnb ou levar executivos ao Vale do Silício. Às vezes, são coisas bem mais simples, como acertar processos dentro da empresa. Tem de trazer esta cultura para os times e isso passa por open innovation e intraempreendedorismo”, enfatizou Naiara.
Uma dica é incluir o tema na pauta das reuniões de diretoria, mostrando o que os times estão fazendo e o que estão testando, independentemente de estar dando certo ou não. “A inovação incremental e até mesmo a mais voltada para o operacional também é inovação. A inovação aberta não elimina a inovação fechada feita em casa pelos colaboradores. Isso e a frequência que o CEO pode colocá-la na pauta são pontos importantes”, resumiu Rafael Fiuza, head de contas da Liga Ventures e que mediou o painel.
Além disso, deve-se começar de forma simples. Isso significa estar aberto para fazer testes curtos, com um escopo pequeno e entendendo que existe a possibilidade de não dar certo. Nesse caminho, fazer benchmarking (processo de analisar outras empresas do mesmo setor como referências para identificar melhores práticas em determinados assuntos e com isso aprimorar a estratégia da própria marca) e recorrer a startups que agreguem produtos e soluções que a empresa não tem expertise tende a ser uma linha promissora.
Por exemplo, no caso do Banco Carrefour, a área de inovação está dentro do departamento de TI (tecnologia da informação). Para que inovação não compita com implantações do dia a dia, Naiara destacou a necessidade de usar a área de TI a seu favor. “É importante definir o escopo tecnológico desde o início. Temos de criar graus de maturidade para os testes, começar simples e depois avançar. Além disso, precisamos ter balizamento na hora de definir escopo, ter padrinhos e contar com a área de inovação orquestrando para chegar ao melhor recorte do teste”, assinalou a executiva.
Desafios a transpor
A troca de informações para desenvolvimento de produtos entre grandes corporações e startups é muito valiosa. No entanto, esses modelos podem enfrentar barreiras. Afinal, ao juntar companhias robustas e veteranas a novatas startups, que têm em seus DNAs a agilidade, pode haver choque cultural e de processos. “Um exemplo: o departamento jurídico de uma corporação nos pediu, para fazer o cadastro, os balancetes dos últimos três anos — e nós tínhamos um ano de existência”, contou Bruno Loiola, cofundador da Pluggy, fintech focada em produtos de open finance para B2B (do inglês “business to business”, em que o cliente final é outra empresa).
O Banco Carrefour precisou rever seus contratos a fim de conseguir trabalhar com startups. Nai Corrêa contou que houve uma adequação de contrato de 20 páginas para somente sete, mas até chegar a esse ponto foram muitas reuniões com diversas áreas. “Precisamos do CEO envolvido, senão não dá jogo”, apontou a executiva. “E, além dele, é preciso ter um padrinho da área de negócio que vai fazer com que aquilo funcione no escalão médio e superior para fazer a validação. É importante ter escala, vários níveis para conseguir sucesso”, completou Loiola.
Na outra ponta, as startups também devem aprender a trabalhar com as grandes corporações, que precisam cumprir diversas regras e normas.
Case: parceria Banco Carrefour e Pluggy
A esteira de inovação escolhida pelo Banco Carrefour foi um programa com startups. A troca de conhecimento e o dinamismo são benefícios de projetos cocriados em parcerias como esta. O banco se juntou à Pluggy para avaliação de como usar recursos open finance.
“Fizemos um projeto no qual o Banco Carrefour queria usar dados de open finance dos requisitantes de cartão de crédito para fazer uma análise mais precisa. Precisamos fazer uma solução no-code para ver o impacto dos clientes que compartilharam os dados financeiros e que poderiam obter ou não crédito. Achamos uma forma de testar rapidamente, com validações bem bacanas”, explicou Bruno. Solução no-code significa criar aplicativos ou softwares sem usar códigos de programação, tornando o processo mais ágil e acessível e possibilitando que pessoas sem conhecimento aprofundado em TI consigam utilizá-los.
Na perspectiva das startups, Loiola disse que o mais importante desses tipos de parcerias é entender a aplicabilidade da solução. “É o product-market fit (processo de mapear a posição da empresa no mercado); é ter um produto e ver se existe mercado para ele. A Pluggy é startup B2B e como encontrar o fit? Através de grandes corporações”, explicou. Por isso, juntar-se a companhias como o Banco Carrefour faz todo sentido.
É por meio da inovação aberta e de parcerias com as empresas que as startups corroboram suas estratégias, validam produtos e serviços e alcançam novos mercados. “Um ponto importante é o branding (gestão do posicionamento da marca); é ganhar reputação como startup. Hoje, a Pluggy carrega credibilidade porque tem um case com o Banco Carrefour, é um selo”, complementa o cofundador.
A Jornada
Com seis encontros virtuais na agenda, a Jornada de Inovação Aberta começou na última quarta, dia 12, abordando a importância da inovação aberta e como implementá-la nas empresas.
“A tecnologia que temos visto, com novos players e novos modelos de negócios, vem transformando a sociedade como um todo e no mercado de capitais não é diferente. A ANBIMA vem acompanhando esta transformação e temos o compromisso de apoiar nossos associados, que são agentes de mercados nesta revolução”, disse Zeca Doherty, nosso superintendente-geral, na abertura do evento.
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A iniciativa compõe a agenda estruturante do ANBIMA em Ação, conjunto de atividades que elegemos como prioritárias para o biênio 2023/2024. Em breve, será lançada também a Rede ANBIMA de Inovação. “Queremos, por meio da Rede ANBIMA de Inovação, ajudar a definir a nossa estratégia de inovação que, no fim do dia, será a estratégia de inovação do mercado de capitais brasileiro. Queremos um ambiente de colaboração, aberto, de ideias e perguntas”, contou Doherty.
Conheça o ANBIMA em Ação
ANBIMA em Ação é o conjunto das principais iniciativas da Associação para este e o próximo ano. Esse planejamento estratégico foi elaborado a partir de uma ampla consulta aos nossos associados, instituições parceiras, reguladores e lideranças da ANBIMA e resultou em três grandes agendas de trabalho: Agenda de Desenvolvimento de Mercado, Agenda de Serviços e Agenda Estruturante. Confira cada uma aqui.