Pandemia muda hábitos de poupança do brasileiro e estimula investimento em produtos financeiros
Resultados da quarta edição do Raio X do Investidor refletem impactos da pandemia sobre consumo, renda e percepção da importância da reserva de emergênciaO ano de 2020 foi marcado pela pandemia de coronavírus, que mudou o mundo, com impacto sobre os negócios e a dinâmica de consumo e renda. Foi nesse contexto que foi feita a quarta edição do Raio X do Investidor. E os dados refletem essas circunstâncias. O número de investidores caiu pela primeira vez. Também pela primeira vez a poupança perdeu adeptos, enquanto todos os outros produtos financeiros foram mais utilizados. O levantamento descortina esses movimentos, como a perda de renda para parte da população, enquanto outra parcela gastou menos devido à mudança de hábitos.
Do total da amostra da população brasileira das classes A, B e C ouvida pelo Datafolha, 40% são classificados como investidores e 60% como não investidores. Por investidor, entende-se alguém que tenha algum dinheiro aplicado em produtos financeiros, mesmo que este investimento não tenha sido feito em 2020. Desde que a pesquisa é feita, em 2017, este foi o primeiro registro de queda na amostra de investidores. O recuo foi puxado pela classe C, ao passo que A e B ganharam participação como investidores.
“Os impactos da pandemia não foram homogêneos para todas as classes sociais pesquisadas. Enquanto as classes A e B se beneficiaram com a formação de uma poupança circunstancial, a classe C poupou menos e até se endividou”, afirma Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da ANBIMA.
A redução dos gastos com viagens, festas, idas a bares e restaurantes favoreceu a formação de uma poupança involuntária por parte da população. Para 56% das pessoas que conseguiram guardar algum dinheiro no ano passado, essa foi a principal fonte de economia. Um ano antes, quando não havia pandemia, apenas 34% das pessoas que economizaram apontaram a redução desses gastos como origem dos recursos poupados. Isso significa que, enquanto em 2019 em torno de 12 milhões de brasileiros disseram economizar em razão de corte de gastos, em 2020 o total saltou para mais de 20 milhões de pessoas
O impacto da pandemia e do distanciamento social sobre a forma como os brasileiros economizaram dinheiro foi tão significativo a ponto de 7% deles - ou algo próximo a 2,5 milhões de pessoas - afirmarem que guardaram porque “não tinham onde gastar”.
“A pesquisa mostra o impacto importante que o fenômeno da poupança involuntária ou forçada teve por conta das restrições impostas pela quarentena. Todas as demais estratégias de planejamento financeiro caíram proporcionalmente. À medida que as restrições da quarentena diminuam e a vida volte ao normal, será interessante ver o quanto dessas mudanças ficam como legado e em que medida elas serão abandonadas, com as pessoas retomando os hábitos pré-pandemia”, avalia Billi.
Para onde foi o dinheiro economizado em 2020?
O levantamento indica que os produtos financeiros foram o principal destino do dinheiro economizado pela população no ano passado, com ganho de participação nas classes A e B, e estabilidade na classe C. Dentre os brasileiros que investiram em 2020, 53% deles colocaram o dinheiro em produtos financeiros, ou 11 pontos percentuais a mais do que o levantamento anterior. Pela primeira vez, os produtos financeiros ultrapassaram a soma de todos os outros destinos dados para as economias, alcançando uma população estimada em 20 milhões de brasileiros.
Ações, títulos privados e fundos ganharam participação no portfólio dos investidores em 2020, enquanto a caderneta de poupança perdeu espaço pela primeira vez em quatro anos, desde que a pesquisa é realizada. A poupança continua sendo o investimento preferido, utilizada por 29% dos investidores ─ 30 milhões de brasileiros das classes A, B e C ─, mas com queda de oito pontos percentuais em relação a 2019.
Os demais produtos financeiros tiveram alta em 2020, com destaque para títulos privados, que ganharam três pontos em relação ao ano anterior, passando a serem utilizados por 5% dos investidores. Os fundos também conquistaram mais adeptos no ano passado: 5% dos investidores indicaram o produto como destino para suas economias, frente a 3% no ano anterior. Isso significa que em torno de 5 milhões de pessoas usando cada um destes produtos.
“A redução da taxa básica de juros estimulou as pessoas a diversificarem seus investimentos na busca por rentabilidade. Isso explica o crescimento nas aplicações em produtos um pouco mais arriscados, como títulos privados e fundos de investimento”, afirma Billi.
Motivação para investir
Em um cenário de juros baixos, os brasileiros que pretendem investir ou continuar investindo em 2021 apontam o retorno como a principal justificativa para a escolha dos produtos financeiros: o item fica com 38% da preferência, 10 pontos percentuais acima da segurança (28%).
Já a facilidade de movimentação, principalmente com o avanço dos serviços digitais, foi citada como motivação por 21% dos entrevistados. Quanto ao destino para o retorno financeiro, 27% afirmaram que vão manter o dinheiro aplicado para uso em emergências, enquanto 26% pretendem comprar um imóvel.
Foi a primeira vez que a compra da casa própria não liderou como o principal destino para o dinheiro economizado pelas pessoas das classes A, B e C. Em tempos de pandemia, a segurança falou mais alto: a necessidade de manter uma reserva de emergência ou um dinheiro guardado por segurança subiu na preferência desses brasileiros. “Ainda é cedo para saber se as pessoas vão, de fato, transformar essa intenção em atitude no futuro, mas é positivo perceber maior propensão ao planejamento”, diz Billi.
Renda na aposentadora
A quarta edição do Raio X mostrou crescimento no número de pessoas que esperam contar com aplicações financeiras e com o próprio salário para compor a renda depois de aposentadas, ao mesmo tempo em que diminuiu a proporção das que esperam contar com recursos do INSS. Enquanto o primeiro movimento é liderado pela classe C, o segundo é puxado pela população das classes A e B.
Quando ouvidos os brasileiros que ainda não se aposentaram, 48% apontam a previdência social como uma das formas de sustento para quando deixarem a ativa. A proporção vem caindo nos últimos três anos: foi de 56% em 2018 e baixou para 51% no ano seguinte, alcançando 48% em 2020. A queda na expectativa em relação ao INSS como uma das fontes de renda no futuro é notada ao longo dos anos nas três classes sociais ouvidas pelo Datafolha.
Já o grupo de brasileiros que apontam o uso de aplicações financeiras como uma das formas de sustento aumentou gradativamente no mesmo período: representava 10% em 2018, subiu para 14% no ano seguinte e alcançou 18% em 2020. Também é crescente o número de pessoas que acreditam que vão viver do próprio salário mesmo depois de aposentados: passou de 21% em 2018 e 2019 para 23% no ano passado. Chama atenção o fato de ambos os movimentos serem liderados pela classe C.
“Os números mostram que está crescendo o mix de estratégias para a aposentadoria, o que é positivo. Todo o debate em torno do déficit e da reforma da previdência social ainda está vivo na memória das pessoas. Isso explica a maior participação de outras fontes de renda como forma de sustento na aposentadoria”, afirma Billi.
A pesquisa também aponta ligeiro crescimento nas citações à previdência privada, mencionada por 9% dos entrevistados como uma das fontes de sustento na aposentadoria, com crescimento em relação aos 7% do ano anterior. O aumento, ainda que dentro da margem de erro, é puxado pela classe C.
“É curioso notar que a classe C olha mais para as aplicações financeiras do que para a previdência privada quando o assunto é planejamento para a aposentadoria. Isso indica uma enorme oportunidade para as instituições porque mostra que as pessoas ainda não conhecem as vantagens do produto”, diz Billi.
O Raio X do investidor em sua terceira edição
Assim como as anteriores, a quarta edição do Raio X foi realizada em parceria com Datafolha. As entrevistas aconteceram entre 17 de novembro e 17 de dezembro de 2020, com 3.408 pessoas economicamente ativas, que vivem de renda ou são aposentadas, de 16 anos ou mais, pertencentes às classes A, B e C, nas cinco regiões do País. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Os dados completos do estudo estão disponíveis na página especial do Raio X do Investidor Brasileiro – 4º edição, onde você encontra também o relatório da pesquisa. Na página, existem gráficos interativos, com dados das pesquisas de 2018, 2019 e 2020. É possível aplicar filtros para informações como: dados demográficos; perfil do investidor de acordo com o produto de investimento; aposentados ou não aposentados, entre outros.
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