Inovabilidade: quando a tecnologia favorece os negócios sustentáveis
Inovabilidade (do inglês, innovability) é uma palavra relativamente nova. Ela foi usada pela primeira vez em 2014, pelo então CEO da Enel, Francesco Starace, para caracterizar o empenho da multinacional italiana de energia na busca de fontes de energia verde e renovável. A inovabilidade nasce da urgência de combinar sustentabilidade com estratégias de inovação de negócios desde o princípio. Em linha com o esforço global de seguir para uma economia net zero, a inovabilidade, quando se trata dos mercados financeiro e de capitais, mira nas práticas de financiamento direcionadas ao desenvolvimento sustentável e responsável.
Em Manaus, durante a Sustainability Week 2024 (SW24), a ideia de que tecnologia e sustentabilidade são convergentes se fez presente de forma transversal nos diferentes debates protagonizados por empresas e entidades do mercado. Considerada a principal conferência de sustentabilidade para o setor privado na América Latina e Caribe, a SW24 foi organizada pelo BID Invest e teve o apoio da ANBIMA.
Transformação digital sustentável
Mas como a tecnologia pode ajudar na adoção de soluções sustentáveis para os negócios? Esse foi o tema de um dos painéis do primeiro dia do evento, no qual Eric Altafim, diretor da ANBIMA, participou ao lado de Daniel Maeda, diretor da CVM; Carolina Rivas, CIO da Tembici; e David Brogeras, chefe de Serviços de Consultoria em Transformação Digital na BID Invest. O painel foi mediado por Daniel Srur, diretor-presidente da ABCripto (Associação Brasileira de Criptoeconomia).
Os painelistas concordaram que inovações tecnológicas como blockchain e inteligência artificial são essenciais para promover a sustentabilidade nas finanças. Eles destacaram exemplos práticos de como essas tecnologias podem ser aplicadas para criar um mercado mais inclusivo, transparente e eficiente, beneficiando tanto investidores quanto empresas. A regulamentação proativa e o apoio de entidades como a CVM e o Banco Central são cruciais para acelerar essa transformação.
"Quando pensamos em transformação digital e sustentabilidade, é importante entender que fazer a transformação de verdade não é só digitalizar um processo. As lideranças corporativas têm que estar cientes do que as tecnologias são capazes de oferecer, para que consigam combinar com a visão de negócio e fazer uma transformação de verdade", disse Eric Altafim.
Para Daniel Maeda, da CVM, o papel dos reguladores, nesse contexto, não é o de regular as tecnologias, mas de incentivar o uso de inovações tecnológicas que gerem impacto socioambiental e ampliem as práticas ESG. "As tecnologias conseguem, ao mesmo tempo, aumentar a transparência de um produto ou serviço, a sua segurança e o nível de controle e confiabilidade, ao passo que reduz os custos associados", destacou Maeda.
E como tangibilizar esses impactos? David Brogeras, do BID Invest, afirmou que "a tecnologia sustentável tem que ser respeitosa com o meio ambiente, tem que defender a inclusão social e, além disso, tem que ser economicamente viável". Como exemplos, o executivo citou o financiamento de soluções ligadas a energia renovável e o uso de matérias-primas sustentáveis.
Como a inovabilidade se manifesta
A aplicação do conceito de inovabilidade nas finanças sustentáveis pode ser vista em várias frentes:
1. Green bonds e sustainability-linked bonds - instrumentos financeiros projetados para financiar projetos que têm benefícios ambientais ou sociais claros. Green bonds, por exemplo, levantam capital para projetos de energia renovável, eficiência energética, transporte limpo e gestão sustentável de recursos. Já os sustainability-linked bonds são atrelados a metas de sustentabilidade e suas condições podem ser ajustadas conforme o desempenho da empresa em relação a essas metas.
2. Financiamento de inovação sustentável - promove a criação de novas tecnologias e práticas que contribuem para a sustentabilidade. Isso inclui o financiamento de startups que desenvolvem soluções inovadoras para problemas ambientais e sociais, utilizando plataformas de crowdfunding, parcerias com hubs de inovação e colaboração com universidades e instituições de pesquisa.
3. Integração de fatores ESG - investidores estão cada vez mais considerando fatores ESG em suas decisões de investimento, buscando não apenas retornos financeiros, mas também impacto positivo na sociedade e no meio ambiente. Essa abordagem é impulsionada pela inovabilidade, que incentiva a adoção de práticas de negócios sustentáveis e responsáveis.
4. Blockchain para transparência e responsabilidade - o uso de tecnologias como blockchain aumenta a transparência e a responsabilidade nas finanças sustentáveis. O blockchain pode ser utilizado para rastrear e verificar a origem dos fundos, garantindo que eles sejam utilizados conforme prometido em projetos de sustentabilidade.
5. Educação e capacitação - a inovabilidade inclui a educação e a capacitação de profissionais financeiros sobre práticas sustentáveis. Isso envolve a criação de programas de treinamento e certificação em finanças sustentáveis, bem como a disseminação de conhecimento sobre a importância da sustentabilidade no setor financeiro.
Para o seu radar:
- Se você não foi a Manaus, ou não conseguiu acompanhar toda a programação da SW24, pode rever toda a programação dos três dias no canal do YouTube do BID Invest.
- Como praticar inovabilidade? Uma entrevista com Ernesto Ciorra, o primeiro Chief Innovability Officer do mercado, contratado pela Enel em 2014, conta como criar um projeto de inovação aberta para mudar as práticas de negócio e focar na sustentabilidade.
- No Brasil, a Suzano é uma das empresas que abraçou o conceito de inovabilidade. Conheça as iniciativas.
Sinais de fumaça no horizonte…