Criptoeconomia e finanças tradicionais em convergência. O que importa em 2024?
Foto: Billion Photo no Canva
Embora o ano passado tenha testado a resiliência da criptoeconomia, ele também pavimentou a aproximação com as TradFi (finanças tradicionais), aumentou o escrutínio dos reguladores sobre o mercado e abriu caminho para a tokenização de ativos se integrar à economia tradicional. No Brasil, acompanhamos o início dos testes-piloto com o Drex, a CBDC (Central Bank Digital Currency, ou Moeda Digital Emitida por Banco Central) brasilera. E, no mundo inteiro, vimos crescer o interesse sobre blockchain, DLTs (tecnologias de registro distribuído) e smart contracts.
"O ano que passou, marcado por ajustes significativos do mercado e mudanças regulatórias, será provavelmente lembrado como um capítulo crucial na história da criptoeconomia", escreve a Dra Tonya Evans, professora na Penn State Dickinson Law e especialista em direito, blockchain e criptoeconomia.
Para Evans, autora do livro Digital Money Demystified, o ponto alto para 2024 é o lançamento das bases para um "novo tipo de mercado em alta – impulsionado não pelo investidor individual, mas pelas instituições financeiras que antes estavam céticas sobre a criptoeconomia".
As ETFs de bitcoin abrem caminho
Um dos exemplos desse encontro de águas dos mercados foi a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) ter aprovado a negociação em bolsa dos ETFs de bitcoin à vista (spot), solicitada por 11 instituições financeiras. A decisão, tomada em janeiro, agitou o mercado financeiro tradicional e a criptoeconomia, especialmente porque era negada pela SEC desde 2013, quando os irmãos Tyler e Cameron Winklevoss propuseram o primeiro ETF de bitcoin (aqui vale conferir a linha do tempo montada pela Reuters).
A expectativa de que essas aprovações atraíssem dinheiro novo para o mercado tradicional e impactassem positivamente o valor das criptomoedas parece estar se concretizando: no dia 13 de fevereiro, o preço do bitcoin chegou aos US$ 50 mil pela primeira vez desde 2021. No dia seguinte, subiu para US$ 51,9 mil, fazendo com que market cap de cripto passasse de US$ 1 trilhão e o bitcoin acumulasse 22% de valorização em 30 dias. E ele não cresce sozinho: a segunda criptomoeda mais valiosa, o Ethereum, acumulou 20% de valorização no período.
O aumento da demanda gerada pelos ETFs de bitcoin à vista nos EUA foi um dos responsáveis pelo salto. Em 30 dias de negociação, completados em 11 de fevereiro, os ETFs acumulam um fluxo de US$ 11 bilhões e, segundo a empresa de análise de dados CryptoQuant, levaram cerca de US$ 9,5 bilhões em dinheiro novo para o mercado de bitcoin nesses 30 dias. “Estimamos que mais de 75% dos novos investimentos em bitcoin vêm desses ETFs”, escreveu o principal analista da CryptoQuant, Julio Moreno. Confira abaixo o gráfico de um ano de bitcoin, entre fevereiro de 2023 e fevereiro de 2024
Outro evento, previsto para acontecer em 22 de abril, deve provocar o aumento do valor do bitcoin. Chamado de Halvening (ou halving), ele acontece a cada quatro anos, cortando pela metade a recompensa paga aos mineradores de bitcoin. O halving foi projetado por Satoshi Nakamoto para conter o potencial de inflação, reduzindo a quantidade de novos bitcoins. Ou seja, reduz a oferta e aumenta, consequentemente, o preço da moeda. O primeiro halving ocorreu em novembro de 2012. O evento de 2024 vai reduzir a recompensa por bloco minerado de 6,25 BTC para 3,125 BTC. Historicamente, o aumento do preço do bitcoin sempre precedeu o halving.
A tokenização ganha espaço em 2024
Além dos ETFs e das influências macroeconômicas, a tokenização de ativos de finanças tradicionais (RWA, ou Real Word Assets, no termo em inglês), em conjunto com a tecnologia de blockchain e DLTs (Distributed Ledger Technologies), emerge como um catalisador dessa convergência entre dois mundos.
O interesse dos investidores institucionais na tokenização está em rota ascendente. Uma pesquisa da EY-Parthenon descobriu, por exemplo, que 83% dos investidores institucionais e 91% dos investidores de alto patrimônio líquido dos Estados Unidos devem incluir títulos tokenizados em suas carteiras até 2027, indicando percentuais de alocação entre 7% a 9% de todo o seu portfólio.
Os valores associados à tokenização são sempre superlativos: o relatório The State of Tokenization, produzido pela 21.co, empresa de gestão de ativos digitais, estima que, em 2030, o valor do mercado global de ativos tokenizados pode variar de US$ 3,5 trilhões (bear market) a US$ 10 trilhões (bull market).
Esse valor, segundo a 21.co, deriva da taxa de penetração estimada do mercado total endereçável em várias classes de ativos, incluindo dívida corporativa não financeira, fundos imobiliários, private equity, títulos colaterais, financiamento comercial e títulos de dívida pública.
Os prognósticos podem ser ótimos, mas há lições de casa a serem feitas para garantir a evolução, aponta o estudo da EY-Parthenon. Entre elas estão:
- Ambiente regulatório em evolução: isso gera incerteza e apresenta desafios para investidores e participantes do mercado.
- Desenvolvimento da rede de distribuição: a mecânica e as redes de distribuição de ativos tokenizados continuam sendo desenvolvidas. Isso exige tempo e colaboração entre as partes interessadas.
- Lacuna educacional: equívocos sobre blockchain e criptomoedas contribuem para desinformação sobre a tokenização de ativos.
- Ecossistema e infraestrutura financeira: o ecossistema que apoia a tokenização de ativos está em estágios iniciais, exigindo a criação de uma infraestrutura financeira robusta e de participantes do mercado.
- Investimentos e custos: a tokenização exige investimentos iniciais significativos, impedindo que alguns participantes adotem o conceito.
Uma nova rede de blockchain
Na ANBIMA, uma das grandes iniciativas estratégicas da agenda de inovação em 2024 é o desenvolvimento de uma rede de blockchain para o mercado de capitais brasileiro. O projeto envolve estruturar e testar uma rede DLT padronizada, multiativos e interoperável, com o objetivo de democratizar o acesso, estimular a inovação e acelerar a conquista dos benefícios da tokenização para todo o mercado.
Nesse link você pode baixar o plano de ação da Associação para o biênio 2023/2024 e saber mais sobre todas as iniciativas.
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