Emissões domésticas registraram volume de R$ 370 bilhões em 2020
As emissões domésticas no mercado de capitais totalizaram R$ 369,8 bilhões em 2020, correspondentes a uma redução de 14,5% em relação ao ano anterior. A despeito dessa queda, resultado de um ano atípico marcado pela incerteza dos investidores em relação à economia, e diante da grande volatilidade dos ativos, o mercado de capitais mostrou recuperação mais sustentada a partir de meados do ano. Nos três primeiros meses da pandemia, a média mensal das emissões era de R$ 21,6 bilhões contra R$ 34,5 bilhões do período entre junho e dezembro. Vale ressaltar que o resultado mensal de dezembro (R$ 63,7 bilhões) foi o maior desde outubro de 2010, quando ocorreu uma oferta subsequente de ações da Petrobrás com volume de R$ 120,2 bilhões, e indica uma perspectiva positiva para 2021. As ofertas em andamento e análise totalizam R$ 8,5 bilhões (desconsiderando o volume das ofertas de ações em análise).
Da mesma forma que ocorreu em 2019, os ativos de renda fixa reduziram sua participação no total emitido em 2020, de 69,6% para 55,8%, consequência do ciclo de queda dos juros dos últimos anos e reforçada pela queda adicional da taxa Selic além do que foi previsto no período pré-pandemia. Em contrapartida, a parcela correspondente às emissões de renda variável (IPOs e follow-ons) aumentou de 20,8% para 32,3% em relação ao ano anterior, e os fundos de investimentos imobiliários elevaram sua participação relativa de 9,6% para 11,9%.
No mercado de renda variável, o grande destaque foi o aumento dos IPOs, oferta inicial de ações, que passaram de R$ 10,2 bilhões para R$ 45,3 bilhões, o maior valor dessas operações desde o boom de IPOs em 2007, que corresponde a um aumento de 344% no período. Somente em dezembro de 2020 essas emissões registraram R$ 15,3 bilhões. Em termos de operações, o crescimento no ano também foi expressivo, de 5 para 27 negócios. Já as ofertas subsequentes de ações (follow-ons) saíram de um volume emitido de R$ 79,8 bilhões para R$ 74 bilhões, uma redução de 7,3%. O número de operações registrou queda de 32,4%, saindo de 37 para 25 negócios. Os fundos de investimentos detiveram a maior parte das ações nas ofertas públicas com praticamente a mesma participação de 2019 (43%), seguido dos investidores estrangeiros com 34,1%.
As emissões de debêntures registram queda de 33,9% no seu volume emitido anual, a primeira desde 2015, passando de R$ 184,7 bilhões para R$ 122,1 bilhões. Desse total, 67,8% do montante foi direcionado para capital de giro, refinanciamento de passivos e resgate de debêntures de emissão anterior. Entre os subscritores, houve aumento expressivo da participação relativa dos intermediários e demais participantes ligados à oferta, que passaram de 40,6% para 64,5% enquanto os fundos de investimentos, que detinham a maior parcela das emissões em 2019, com 48,8%, corresponderam a apenas 23,4% do total ofertado. Vale notar que a maior emissão mensal de 2020 ocorreu em dezembro, no valor de R$ 28,6 bilhões.
O perfil dos prazos de emissão das debêntures em 2020 mostra que as emissões até três anos corresponderam a 34,5% das emissões contra 19,5% do ano anterior. Por sua vez, as emissões entre quatro e seis anos indicaram queda para esse mesmo período de 45,2% para 30,7%.
Em relação às emissões de debêntures incentivadas emitidas sob o artigo 2º da Lei 12.431, direcionadas a projetos de infraestrutura e com isenção de IR para pessoas físicas, houve queda de 45,6% em relação ao ano anterior, de R$ 33,8 bilhões para R$ 18,4 bilhões, o que corresponde a uma redução do número de operações no mercado primário de 75 para 42 negócios.
A recuperação do segmento imobiliário na economia iniciada em 2019, ainda atrativa em 2020 diante dos juros básicos de 2% ao ano, manteve a trajetória de crescimento anual das emissões de fundos de investimentos imobiliários, passando de R$ 41,4 bilhões para R$ 44,1 bilhões em 2020. As pessoas físicas continuam como os principais subscritores das ofertas públicas de fundos imobiliários, com 41,9% do total colocado, seguidas dos fundos de investimentos, com 28,1%.
No mercado externo, as estimativas de captações seguem o mesmo padrão do ano anterior, com predominância das emissões de títulos da dívida (cerca de 95%) e complementadas por operações de renda variável. Houve o mesmo número de operações de 2019 (32) com o volume passando de US$ 25,7bilhões para US$ 27,3 bilhões. As maiores captações do ano foram de duas emissões soberanas de títulos do Governo brasileiro (US$ 3,5 e 2,5 bilhões) e da Petrobrás (US$ 3,25 bilhões).