ANBIMA sugere que CVM delimite as diferenças entre opinião e recomendação em publicações de influenciadores
A ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) encaminhou nesta sexta-feira (1º) uma série de sugestões para a audiência pública da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) sobre a atuação de influenciadores digitais. Uma delas é a definição de forma mais clara dos limites entre o que é opinião desses profissionais nas redes sociais e o que são análises e recomendações de produtos financeiros. As manifestações foram discutidas em grupo de trabalho formado por cerca de 20 instituições e contou com a participação dos próprios influenciadores.
A iniciativa faz parte da agenda de Centralidade do Investidor, do ANBIMA em Ação, conjunto de iniciativas que elegemos como prioritárias para 2023 e 2024.
“Apenas profissionais certificados podem fazer análises ou recomendações de produtos ou serviços financeiros. Mas nem todos os influenciadores têm essas qualificações. Eles podem dar uma opinião, que pode ser interpretada como recomendação ou análise. O limite entre as duas coisas é muito tênue. É importante dar mais clareza, do ponto de vista regulatório, para essa linha que divide as duas coisas”, afirma Luiz Henrique Carvalho, gerente executivo de Distribuição da ANBIMA.
O executivo explica que as ideias precisarão ser aprofundadas em conjunto com a CVM, levando em consideração questões como a recorrência, continuidade e remuneração envolvidas na atividade. “A discussão é complexa e devemos avançar no sentido de tornar essa diferenciação mais transparente, mas dificilmente teremos uma regra que contemple todas as possibilidades, até pelo dinamismo e fluidez da atividade dos influenciadores”, analisa.
Outras sugestões
A entidade pede que a autarquia consolide os entendimentos sobre a atividade do analista de valores mobiliários, previstos na Resolução CVM 20/2021, que define o escopo de atuação destes profissionais e a exigência de certificação. E mais especificamente dentro desse ponto, está a alteração da expressão “relatório de análise” para “análise”, considerando, explica Carvalho, que a atividade “é exercida atualmente de maneira mais informal e fluida nas redes sociais até pelos próprios analistas certificados”.
As ideias para a consulta pública contemplam ainda uma definição do conceito de recomendação, detalhando o que é promoção implícita ou explícita de produtos e serviços atrelados a vantagens para quem a realiza. Também preveem que o influenciador deixe claro, em seus perfis nas redes sociais, as suas credenciais de analista, consultor e ou assessor, além de eventuais vínculos com instituições financeiras, abrindo espaço para a identificação de potenciais conflitos de interesse relacionados.
A ANBIMA também recomenda que a eventual futura regulação para a atividade de influenciadores digitais esteja em harmonia com as atuais normas de autorregulação da própria Associação e da BSM, órgão da B3, responsável pela supervisão de mercados, a fim de não criar uma sobreposição de regras.
Em novembro de 2023, passaram a valer as normas da ANBIMA para a contratação de influenciadores para publicidade. A autorregulação, voltada para instituições que seguem o Código de Distribuição da entidade, determina que as parcerias sejam informadas, de forma clara, para os seguidores e que os contratantes são responsáveis por verificar se os influenciadores contratados têm certificações se estiverem fazendo uma análise ou recomendação.
Outra sugestão diz respeito à diferenciação da publicidade institucional (como quando um jogador de futebol faz uma propaganda de uma corretora, por exemplo) daquela em que há uma recomendação por produtos e serviços financeiros específicos.
Por fim, a ANBIMA sugere um debate sobre a diferença entre o trabalho dos influenciadores contratados por instituições reguladas em relação àqueles que são remunerados pelas próprias plataformas digitais em que disponibilizam seus conteúdos.
Audiência pública da CVM
A CVM abriu, em novembro de 2023, a audiência pública conceitual para receber sugestões sobre possíveis opções regulatórias para a atividade de influenciadores digitais com relação às obrigações e responsabilidades de instituições reguladas na contratação desses profissionais.
A consulta pública foi separada em três blocos: transparência, promoção e divulgação de conteúdos por meio de plataformas de mídia e redes sociais e influenciadores atuando como analistas de valores mobiliários.
A elaboração das propostas da ANBIMA foi discutida em grupo de trabalho com cerca de 20 instituições e foi apresentada a aproximadamente 80 influenciadores de finanças em uma reunião aberta no final de fevereiro.
“Os influenciadores têm desempenhado um papel cada vez mais importante no mercado de investimentos, criando uma conexão com investidores desde os iniciantes até os experts e contribuindo com educação financeira da população. Acompanhamos de perto esse crescimento desde 2020 e, ao lado de instituições como a BSM, temos liderado essa agenda regulatória em prol da transparência na relação entre influenciadores e instituições financeiras. O maior beneficiado em todo esse processo certamente é o investidor”, analisa Carvalho.
O relatório FInfluence – quem fala de investimentos nas redes sociais -, publicado pela ANBIMA, mostra o expressivo crescimento da atividade no Brasil. Nos últimos três anos, o número de influenciadores de finanças passou de 266 para 515, enquanto a audiência saltou 140%, para 176,3 milhões de seguidores.
Conheça o ANBIMA em Ação
Essa iniciativa faz parte do ANBIMA em Ação, conjunto das principais atividades da Associação para 2023 e 2024. Esse planejamento estratégico foi elaborado a partir de uma ampla consulta aos nossos associados, instituições parceiras, reguladores e lideranças da ANBIMA. Confira aqui as nossas quatro grandes agendas de trabalho: Centralidade do Investidor, Desenvolvimento de Mercado, Agenda de Serviços e Agenda Estruturante.
A ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) representa mais de 300 instituições de diversos segmentos. Dentre seus associados, estão bancos comerciais, múltiplos e de investimento, asset managements, corretoras, distribuidoras de valores mobiliários e consultores de investimento. Ao longo de sua história, a Associação construiu um modelo de atuação inovador, exercendo atividades de representação dos interesses do setor; de autorregulação e supervisão voluntária e privada de seus mercados; de distribuição de informações que contribuam para o crescimento sustentável dos mercados financeiro e de capitais; e de educação para profissionais de mercado, investidores e sociedade em geral.