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2025#30:Dá para ganhar dinheiro com dados?
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2025

#30:Dá para ganhar dinheiro com dados?

De passivo a ativo: a economia  baseada em dados pessoais

Imagem ilustrativa sobre monetização de dados pessoais mostra uma carteira estilizada na tela do computador com um símbolo de cifrão desenhado

Quando você toma um cafezinho na padaria, compra leite no supermercado, coloca combustível no carro ou assiste a um filme na Netflix, a quem pertencem os dados gerados nessas transações? Melhor que isso, quantos tipos de dados são gerados e qual o valor deles, para você e para as empresas envolvidas? 

Com a digitalização de praticamente todas as atividades transacionais do dia a dia de pessoas e empresas, uma teia de dados vai sendo construída na paralela, mas nem todos os stakeholders se beneficiam igualmente dela ou sequer sabem que ela existe.  Os pratos da balança, no quesito propriedade e monetização de dados, invariavelmente pendem para o lado corporativo, deixando a pessoa física só com as despesas da conta da internet, do plano de dados móveis, das assinaturas de serviços de streaming, entre outras, diz Bruno Aracaty, Chief Revenue Officer da startup DrumWave, em entrevista exclusiva para a ANBIMA.

Com sede no Vale do Silício, fundada e comandada pelo brasileiro André Vellozo, a DrumWave está levando o tema para um novo patamar: transformar dados digitais pessoais em ativos tangíveis e negociáveis em marketplaces de investimento, entre pessoas físicas e instituições. A startup lançou no final de outubro, na Money 20/20, sua primeira dWallet® para o mercado norte-americano, acompanhada de uma conta de poupança de dados (Data Savings Account), testando uma mudança de paradigma que pode gerar impacto.

Depois de sete anos de investimento e parcerias com grandes players do mercado financeiro, a DrumWave quer dar aos indivíduos habilidade de controle, negociação e investimento com seus dados. A plataforma dWallet® representa uma mudança fundamental no jeito como a propriedade e a monetização são tratadas, permitindo que indivíduos e empresas contribuam e negociem os dados gerados na relação em uma "guarda compartilhada". Dessa forma, dados pessoais se transformam em um ativo tangível com valor monetário real. 

Confira, abaixo, destaques da entrevista.

Montagem com a fotografia do Chief Revenue Office da DrumWave, Bruno Aracaty, prevendo no futuro fundos dedicados a monetização de dados dos consumidores

Como a tese da DrumWave evoluiu? 

Sete anos atrás, falar de valor de dados era algo muito abstrato para a maioria das empresas. Os dados e a infraestrutura eram vistos como centro de custo, e a ideia de extrair valor interno para os negócios estava apenas começando a ser explorada.

Nosso foco inicial foi construir musculatura tecnológica e atuar diretamente com empresas, criando soluções e aplicações que ajudassem a resolver problemas específicos com base nos dados que elas já possuíam. Era um trabalho voltado para gerar valor interno. Com o tempo, percebemos que a próxima fronteira seria entregar valor de dados para os indivíduos, mas, naquela época, isso era inviável. Não havia LGPD, GDPR, open banking ou mesmo uma infraestrutura de dados madura. 

Hoje, com essas ferramentas no mercado, lançamos a Data Saving Account e a dWallet®, abrimos inicialmente para as empresas norte-americanas fazerem o onboarding na plataforma, cadastrando seu catálogo de produtos e serviços, e os dados relativos a cada um dos produtos, porque queremos levar a propriedade dos dados pessoais ao nível granular. 

Queremos que quando uma pessoa vá comprar leite, ela possa escolher o leite de uma marca que tem seus dados mapeados. Porque quando você compra o leite, está pagando também a embalagem e o dado. E que dados são esses? Tem informação nutricional, tem os ingredientes, tem a data de expiração, tem o quanto de plástico tem naquela embalagem, tem informação de procedência do fornecedor etc. 

Como funciona poupança e a dWallet®?

A poupança de dados e a dWallet são parte do nosso esforço para criar um sistema em que os dados do consumidor sejam valorizados e utilizados de forma relevante. Criamos uma plataforma tecnológica que tem várias camadas. Tem o conjunto de APIs que criam os trilhos para esse dado transacionar. São os trilhos da logística do valor, tem um trilho para a logística do dado em si, tem um ledger para registrar a propriedade do dado. Ou seja, um conjunto de tecnologias para fazer tudo acontecer, e uma série de métricas que desenvolvemos para quantificar o valor do dado e o percentual que cabe a cada stakeholder.

Estamos trabalhando com marcas, provedores e varejistas para integrar todas as camadas da experiência do consumidor, desde dados financeiros, como o uso do cartão de crédito, até dados mais complexos, como os gerados pelas suas compras e interações diárias. O objetivo é criar casos de uso que vão além do dinheiro, entregando valor real ao consumidor.

Por exemplo, você poderá visualizar o impacto ambiental de suas compras, como quanto plástico gerou ou como pode reduzir suas emissões de carbono. Tudo isso será possível porque os dados gerados em suas interações estarão registrados e organizados sob custódia. 

Ao mesmo tempo, empresas que precisem desses dados, como uma fabricante que quer entender melhor os consumidores de determinado produto, poderão fazer ofertas e pagar pelo uso desses dados. O consumidor mantém a propriedade e o benefício é distribuído para todas as partes envolvidas — desde o fabricante até o varejista, além do próprio consumidor.

O que é a guarda compartilhada?

A guarda compartilhada de dados é uma ideia central no que estamos construindo. Quando você realiza uma transação, como comprar um café, você gera dados que resultam da interação entre você e a empresa. Esses dados não existiriam sem você, mas também não existiriam sem a empresa, que contribui não só com o café, mas armazenando e processando as informações. Então, ambos têm direito sobre esses dados.
 

Ao comprar o leite, o consumidor gera dados de localização (onde a compra foi feita), capturados pelo varejista. Ao mesmo tempo, o fabricante do leite contribui com informações sobre a embalagem, os ingredientes e a logística. Todos esses dados têm valor e nossa plataforma organiza isso de forma transparente, permitindo que cada participante receba uma compensação proporcional quando esses dados forem consumidos. Esse modelo transforma os dados em um ativo compartilhado que beneficia todos os envolvidos na cadeia.

Os dados são ativos financeiros escondidos?

Hoje, estamos para os dados no mesmo ponto em que a música estava antes de plataformas como Spotify e Apple Music. Antes, as pessoas "capturavam" músicas sem pagar direitos autorais, e os artistas não eram remunerados. Nos dados, o verbo "capturar" ainda é usado, e reflete um comportamento agressivo: empresas tomam os dados gerados por consumidores sem oferecer nada em troca.

Nosso papel é organizar essa cadeia, registrando os dados de forma transparente e mantendo a propriedade com o consumidor. Assim, quando uma empresa quiser acessar esses dados, seja para treinar uma inteligência artificial ou criar ofertas personalizadas, ela precisará pagar por isso. Isso transforma os dados de custo em fonte de receita, para empresas e consumidores, redistribuindo o valor de maneira justa. É um sistema que cria um ativo financeiro tangível a partir de algo que, até agora, era invisível.

Qual o futuro dos dados?

Nós enxergamos os dados como um ativo financeiro com potencial para ser negociado de forma similar a ações ou fundos de investimento. A poupança de dados, por exemplo, pode ser vista como um fundo onde o consumidor deposita os dados que gerou e pode escolher estratégias para monetizá-los, dependendo dos casos de uso. Imagine que você tenha interesse em monetizar seus dados de saúde; seria possível contar com um gestor especializado em dados dessa área, que saberia como criar as melhores aplicações e maximizar o valor.

Além disso, o mercado financeiro tem um papel crucial nesse ecossistema porque é uma questão de confiança. Quem tem maior credibilidade hoje para guardar nossos ativos? Bancos e instituições financeiras. Eles já gerenciam nosso dinheiro, então faz todo sentido que também possam gerenciar o valor dos nossos dados. Em um futuro próximo, acredito que veremos fundos dedicados exclusivamente à monetização de dados, onde consumidores escolhem como e com quem desejam compartilhar suas informações para gerar retorno. Isso transforma os dados em um ativo financeiro legítimo e negociável.

Como educar consumidores?

Educar o consumidor sobre o valor dos dados é um processo, mas acreditamos que ele já começou. Hoje, as pessoas interagem com questões de privacidade o tempo todo, como ao clicar em "aceitar cookies" em sites ou decidir quais permissões conceder a um aplicativo. Isso mostra que os consumidores estão começando a entender que suas ações geram dados valiosos.

Nosso objetivo é aprofundar essa compreensão, mostrando que os dados gerados em cada interação têm valor real. Por exemplo, quando você assiste a um filme na Netflix, está pagando pela assinatura, mas está gastando para gerar os dados enquanto consome o conteúdo (sua conta de internet e energia elétrica, por exemplo). É importante que as pessoas reconheçam que esses dados são ativos que podem ser monetizados. Tecnologias como inteligência artificial serão grandes catalisadoras dessa mudança, pois dependem cada vez mais de dados confiáveis, que começam a faltar. Isso forçará o mercado a reconhecer o valor dos dados e a criar estruturas mais transparentes. 

Assim como a Apple tornou a privacidade um tema mainstream, acreditamos que a inteligência artificial fará o mesmo pela monetização de dados. Até 2030, os consumidores estarão muito mais conscientes do valor de seus dados e preparados para utilizá-los como um ativo financeiro estratégico.

Para o seu radar:

Sinais de fumaça no horizonte…

  • Direto do Centro de Finanças Alternativas da Universidade de Cambridge (UK), chega o estudo "The Global State of Open Banking and Open Finance Report", examinando o cenário regulatório e operacional para Open bBanking e Open Finance em 95 jurisdições. Em 44 dos países analisados, garantir a competitividade dos players é a prioridade. Inclusão financeira e inovação estão em segundo plano.
     
  • Na corrida pela IA na América Latina, estudo da Horizon Grand View Research prevê que o Brasil vai crescer a receita com a tecnologia a uma taxa CAGR de 23,7% até 2030, atingindo US$ 49,3 bilhões.
     
  • A IA poderá engolir o mundo, segundo o analista independente Benedict Evans, em uma palestra "pé no chão", feita em novembro, que oferece dados atualizados do mercado.
     
  • Pagamentos transfronteiras e e-commerce global em 2025 são abordados no novo relatório do The Paypers, que prevê uma movimentação de US$ 4,12 trilhões no fechamento de 2024, projetando US$ 6,48 trilhões em 2029.