Europa puxa mercado de investimentos sustentáveis
O mais recente relatório da Esma (European Securities and Markets Authority) sobre riscos de mercado, divulgado em agosto de 2024, revela um aumento expressivo nos fluxos de capital direcionados a fundos de transição climática na Europa. Apenas nos últimos dois anos, esses fundos acumularam entradas de aproximadamente € 27 bilhões, refletindo o crescente interesse em ativos que promovam a transição energética.
Segundo análise da consultoria Morningstar, o protagonismo da União Europeia nesse cenário não é por acaso, mas sim o resultado de um esforço regulatório robusto liderado pelo BCE (Banco Central Europeu) e pela própria Esma, visando a neutralidade climática dos portfólios do mercado.
A expansão da taxonomia da União Europeia, que agora abrange atividades de transição, é parte essencial desse movimento. As normas não apenas direcionam os investidores como também padronizam o entendimento sobre quais atividades econômicas são consideradas alinhadas à agenda climática, criando um ambiente regulatório favorável para o aumento do capital alocado nesses fundos.
Tendência mundial
Volume alocado em fundos climáticos (Fonte: Morningstar Direct. Morningstar Research. Dezembro de 2023)
Após a Europa, a China surge como o segundo maior mercado em termos de capital alocado em fundos climáticos. O avanço se deve principalmente a carteiras focadas na descarbonização de portfólios e em soluções climáticas, como o investimento em energias limpas.
A cooperação entre a União Europeia e a China, estabelecida em 2021 com o lançamento de uma taxonomia comum por meio da IPSF (Plataforma Internacional sobre Finanças Sustentáveis), foi um passo importante para harmonizar critérios regulatórios entre as duas potências.
Nos Estados Unidos, o cenário é mais desafiador. Embora a Casa Branca tenha anunciado em 2021 uma política de gestão de riscos financeiros relacionados ao clima, o progresso tem enfrentado obstáculos políticos, com fortes resistências de movimentos anti-ESG. Ainda assim, o país ocupa a terceira posição global em termos de capital investido em fundos climáticos, demonstrando que, mesmo diante de objeções, o mercado está avançando, impulsionado por investidores que buscam proteger seus ativos de riscos climáticos.
Mesmo com as diferenças de ritmo, o movimento parece ser uma tendência mundial. O BCBS (Comitê de Supervisão Bancária de Basiléia) anunciou em abril a incorporação do risco climático em seus princípios fundamentais.
Brasil: um mercado em potencial
No Brasil, o Banco Central também está implementando mudanças nas normas prudenciais com foco no risco climático, alinhando-se à tendência mundial. Ainda este ano, está prevista a consulta pública para revisão do Relatório GRSAC (Riscos e Oportunidades Sociais, Ambientais e Climáticas). Essas mudanças devem fortalecer o papel do país no mercado global de fundos climáticos, incentivando gestores a ampliarem suas carteiras voltadas para a sustentabilidade.
"Os gestores de ativos devem ficar atentos aos impactos da mudança climática, pois têm um papel fundamental tanto de proteger os investimentos dos riscos trazidos pela crise do clima, como para influenciar positivamente as empresas financiadas a adotarem práticas mais sustentáveis", afirma Denisio Liberato, diretor da ANBIMA e líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.
Ainda existem desafios a serem superados, mas o país tem feito o dever de casa com uma série de iniciativas, como:
- a construção de um plano de ação para a Taxonomia Sustentável Brasileira (tema da Conexão ESG de agosto);
- a Resolução CVM 193, regulação que estabelece a elaboração e divulgação de informações relacionadas à sustentabilidade no relatório de informações financeiras seguindo o padrão ISSB (International Sustainability Standards Board);
- e o programa Eco Invest Brasil para mobilização de capital externo e proteção cambial, que disponibiliza R$ 27 bilhões para apoiar o desenvolvimento, a liquidez e a eficiência do mercado de proteção cambial para projetos de transformação ecológica.
Somados os avanços regulatórios recentes, o Brasil oferece diferenciais na atração de capital privado, incluindo de investidores europeus, tais como o potencial de projetos de compensação por projetos florestais e recursos naturais estratégicos para a transição energética.