De olho nos números: a IA gera (mesmo) valor para o negócio?
Fonte: Canva
Praticamente dois anos após a IA Generativa ter chegado às mãos das pessoas, as empresas aceleram para testar, experimentar e identificar as oportunidades de impactar os negócios. Os relatos de benefícios reais que começam a aparecer este ano, entre empresas pioneiras, funcionam como combustível para essa aceleração.
Um grupo de pesquisa do Stanford Digital Economy Lab, dentro do Stanford HAI e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), estudou, por exemplo, a experiência de uma empresa do grupo das Fortune 500 com a implantação em escala da IA Generativa no atendimento ao cliente via call center. O uso da ferramenta permitiu que os agentes resolvessem 13,8% mais problemas por hora, lidando com várias chamadas ao mesmo tempo. O maior impacto, segundo o estudo, foi entre os trabalhadores menos experientes.
A velocidade da adoção impressiona. A segunda pesquisa global sobre uso de IA, da consultoria McKinsey, publicada em junho, mostra que o percentual de empresas adotando IA Generativa saltou de 33% em 2023 para 65% no primeiro semestre de 2024. O relatório também evidencia um efeito adicional importante: o crescimento do percentual de empresas usando aplicações de IA analítica, que se mantinha na média de 50% nos últimos seis anos, saltou para 72% em 2024 (gráfico abaixo).
Esse combinado de IA analítica, mais antiga, com a novidade da IA Generativa, dá resultados palpáveis, segundo a McKinsey — desde que haja investimentos consistentes em infraestrutura, treinamento e capacitação, governança, segurança, e atenção às imprecisões que a IA Generativa ainda gera.
A pesquisa mostra que 30% das empresas de serviços financeiros investiram entre 6% a 20% de seus orçamentos digitais em IA Generativa e analítica, enquanto 12% investiram mais de 20% do orçamento em IA analítica. Olhando para o futuro, a maioria das pessoas entrevistadas de todos os setores (67%) espera que suas organizações invistam mais em IA nos próximos três anos.
Investimentos versus resultado
Pioneiras no uso da IA Generativa de diferentes segmentos já atribuem mais de 10% do Ebit (lucros antes dos juros e tributos) de suas organizações ao uso da tecnologia, mas 42% de profissionais de alto desempenho atribuem mais de 20% de seu Ebit ao uso de IA analítica, segundo a pesquisa da McKinsey. A maioria das organizações tem menos de US$ 1 bilhão em receita anual. Em média, essas empresas estão usando IA em pelo menos três funções de negócio.
A primeira pesquisa AI Pulse, da EY, publicada em meados de julho, confirma que o retorno do uso da IA nos negócios é diretamente proporcional ao investimento. Empresas cujos investimentos atuais em IA são 5% ou mais de seus orçamentos totais tiveram maiores taxas de retorno positivo (ROI), quando comparadas com as que gastam menos de 5%: produtividade (76% vs. 62%, respectivamente); cibersegurança (74% vs. 58%); inovação de produtos (71% vs. 55%) e criação de vantagens competitivas (73% vs. 47%).
Os retornos positivos dos primeiros investimentos estão sinalizando a mudança da IA para um papel central nas estratégias de crescimento corporativo, aponta a EY. A recomendação é não deixar nenhuma peça fundamental pelo caminho, e isso significa mais do que apenas integração tecnológica. A empresa precisa se adaptar a um novo paradigma pelo qual a IA remodela todos os aspectos do negócio. Da construção de uma infraestrutura de dados escalável ao fomento de uma força de trabalho fluente em tecnologias emergentes, a pesquisa enfatiza a necessidade de uma abordagem holística para a adoção da IA.
Gás no mercado financeiro
A segunda edição do estudo global Harnessing the value of generative AI, da Capgemini, mostra que 49% das empresas do mercado financeiro já fazem uso da IA Generativa em uma ou mais atividades em 2024. O estudo ouviu 1,1 mil pessoas em cargos executivos em empresas de 11 diferentes setores, com mais de US$ 1 bilhão em receita anual, em 14 países. Na média, segundo as respostas, a produtividade aumentou 7,8%.
O setor financeiro, segundo a Capgemini, está acelerando a integração da IA Generativa em várias funções, incluindo análise de risco, atendimento ao consumidor e compliance. O relatório indica que o setor reconhece os benefícios da tecnologia e se prepara para aumentar seus recursos operacionais. A maioria das empresas (67%) acredita que a tecnologia pode ser transformadora para aumento de receita e inovação.
Como a IA pode ser transformadora?
- Onboarding do cliente: acelerar e simplificar o processo de integração de novos clientes, permitindo uma compreensão rápida dos ativos, perfis de risco e objetivos deles. Isso é especialmente útil para lidar com investimentos alternativos e classes de ativos mais complexas, que exigem uma análise detalhada.
- Pesquisa de investimento: sintetizar grandes volumes de dados complexos, como transcrições de conferências de resultados, relatórios financeiros e documentos regulatórios. Isso permite respostas rápidas e inteligentes a consultas semânticas, ajudando analistas a acelerar suas pesquisas e descobertas.
- Serviços burocráticos: automatizar e agilizar processos intensivos em papel e manuais, como ações corporativas e acordos de colateral. Isso reduz o risco e o custo associados ao processamento desses eventos e melhora a precisão e a velocidade das operações.
- Engajamento com o cliente: por meio de assistentes virtuais avançados que respondem rapidamente às consultas e fornecem recomendações financeiras personalizadas. Isso aumenta a eficácia dos gerentes de patrimônio em atender seus clientes com estratégias de investimento e serviços adaptados às necessidades individuais.
- Conformidade regulatória: A IA generativa pode criar um ambiente de conformidade mais onipresente, monitorando comunicações de consultores e traders para garantir que estejam em conformidade com as regulamentações. Além disso, pode automatizar a criação de conteúdo de marketing e atualizações de código para refletir mudanças regulatórias, garantindo que as operações estejam sempre em conformidade.
Para o seu radar
- Mais lucros: o relatório AI & Finance: Bot, Bank & Beyond, publicado pelo Citi Global Perspectives and Solutions, estima que a entrada da IA no setor bancário pode adicionar US$ 170 bilhões aos lucros do setor até 2028.
- Perspectivas de futuro: CFOs estão colocando a IA e outras tecnologias emergentes no horizonte de investimentos estratégicos de longo prazo nas empresas, aponta a McKinsey.
- Governança em foco: recomendações da OCDE para estratégias de Inteligência Artificial