A inteligência viva nos espera no grande "além" de Amy Webb

Foto: reprodução/transmissão ao vivo
Ano após ano, a futurista quantitativa Amy Webb captura a atenção do público no South by Southwest ao destacar um conceito que reverbera por todo o mercado. Em 2024, ela avisou que, coletivamente, estávamos nos transformando na Geração T (de transição), prestes a entrar em um superciclo tecnológico provocado pela junção da inteligência artificial, biotecnologia e uma rede turbinada de sensores.
No sábado, dia 8, Amy Webb subiu novamente ao palco da SXSW 2025 para lançar a 18ª edição do Tech Trends Report do FTSG (Future Today Strategy Group, novo nome do Future Today Institute) e nos alertar que o superciclo tecnológico não arrefeceu. Ele acelerou e nos jogou em um momento que ela chama de "além", algo que quebra as regras da computação tradicional e ultrapassa as leis da física até o ponto de não retorno da humanidade.
Com o "além", vem a inteligência viva — sistemas biotecnológicos que podem sentir, aprender, se adaptar e evoluir, sem necessariamente precisar da inteligência humana para funcionar. Esses sistemas provocarão saltos de inovação importantes com o uso da IA como fundação e da biotecnologia como matéria-prima. "Eu não estou usando uma metáfora, a inteligência viva é uma coisa real e ainda não é a AGI (Inteligência Geral Artificial)", disse ela.
Mas o que está no Beyond?
O Tech Trends Report de 2025 também tem seu lado "além": atingiu mil páginas, um recorde histórico. Ele, acima de tudo, destaca a necessidade de superar a inércia e se preparar para as transformações inevitáveis que estão ocorrendo ou que vão ocorrer. Para enfatizar a importância do planejamento, Amy chama esse momento de "stone in your shoe effect", ou efeito pedra no sapato. Segundo ela, quando andamos com uma pedra no sapato, nosso sistema cognitivo trava e prioriza ações imediatas, como nos livrar do incômodo.
O que acontece no "além", diz ela, é que o futuro é uma pedra no sapato que não vamos conseguir tirar, portanto temos que aprender a domar o impulso de agir sem planejar e criar uma nova jornada disruptiva.

Abaixo, alguns dos insights:
- Desconforto e mudança: Amy enfatiza que a resistência à mudança impede inovação. CEOs e líderes devem aprender a lidar com as "pedras no sapato" do mundo corporativo — IA, dinâmicas de mercado, crises econômicas e FOMA (Fear of Missing Anything).
- Convergência tecnológica: a fusão entre IA, biotecnologia e nanotecnologia remodelará não apenas setores, mas normas sociais e estruturas éticas.
- IA multiagente: sistemas de IA que delegam e colaboram entre si sem necessidade de interferência humana estão em expansão. Além disso, novas formas de análise de dados tornarão a coleta invisível e onipresente.
- Biotecnologia e metamateriais: a era dos materiais programáveis chegou. Estruturas capazes de mudar propriedades conforme o ambiente abrirão espaço para inovações na construção civil, medicina e vestuário.
- Nanotecnologia e novos materiais: a possibilidade de criar materiais mais resistentes que o aço usando tecnologia sintética mudará a engenharia e o design de produtos.
- Proliferação de robôs: para continuar a evoluir, a IA precisa ganhar um corpo que lhe permita sentir e observar o contexto e fazer suas inferências. Antes, a dificuldade dos movimentos finos em robôs atrapalhava essa evolução. Agora, com a combinação da IA, sensores e biotecnologia, os robôs ganham esses movimentos.
- Disrupção de setores tradicionais: a biotecnologia e a IA transformarão indústrias como a farmacêutica e de ciências da vida. Pequenas startups poderão superar grandes empresas ao utilizar ferramentas low-code.
- Capacidades humanas aprimoradas: interfaces cérebro-computador e inteligência de organoides podem revolucionar o controle de próteses e a interação homem-máquina.
- Materiais inteligentes: edifícios e objetos que se adaptam ao ambiente poderão mudar suas propriedades estruturais para resistir a terremotos, otimizar consumo energético e filtrar poluentes.
- Mudanças climáticas: empresas precisarão investir em materiais sustentáveis e soluções de bioengenharia para mitigar impactos ambientais.
- Desafios éticos e sociais: a intersecção entre IA e biotecnologia levanta questões sobre privacidade, monitoramento biométrico e regulação do uso de materiais vivos na tecnologia.
Uma das marcas registradas de Amy Webb são seus cenários, em que ela conecta diversos acontecimentos para desenhar diferentes futuros que podem ser otimistas, pessimistas ou neutros. Na palestra de 2025, Amy se mostrou mais pessimista do que nunca: "as possibilidades extremas vêm carregadas de responsabilidade e, se abdicarmos disso, estaremos avançando direto para um desastre", pondera.
Por isso, a recomendação é se acostumar com a pedra no sapato e exercitar sua capacidade de criar cenários. "Melhor ser surpreendido em cenários fictícios do que pela realidade. É hora de criar espaços para discutir como desenhar o futuro e não de ignorar o que vem pela frente".