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2025#21 Como fica a agenda net zero no setor financeiro
Regulação Internacional

2025

#21 Como fica a agenda net zero no setor financeiro

Mesmo com EUA, alinhamento ao net zero no setor financeiro avança

As notícias de que grandes bancos, gestoras de investimentos e seguradoras dos Estados Unidos deixaram de integrar as coalizões globais pela descarbonização de portfólios têm sido frequentemente associadas a uma guinada anti-ESG no país,  impulsionada pelo retorno do republicano Donald Trump à presidência dos EUA. De fato, Trump assinou a saída do país do Acordo de Paris logo após tomar posse e suspendeu uma série de medidas da política climática da gestão Biden.

Porém, os anúncios de instituições financeiras têm conexões com outro risco que se tornou desafiador para as empresas norte-americanas nos últimos meses: a margem para judicialização estadual e federal de suas políticas de investimentos e empréstimos com base na legislação antitruste e de acesso justo em alguns estados dos EUA. Para além desse contexto local, não há sinais de retrocesso no movimento voluntário do setor financeiro privado de adesão às metas net zero. 

De acordo com o NZFT (Net-Zero Finance Tracker), elaborado pela Climate Policy Initiative, houve progressos no alinhamento do setor financeiro privado ao Acordo de Paris. Considerada a avaliação mais abrangente do progresso das instituições financeiras privadas nas metas de emissão zero, o NZFT detectou avanços desde 2019 na implementação de medidas para atingir essas metas, impulsionadas principalmente pela divulgação de dados de emissões e risco climático, gestão e estratégia de risco climático e responsabilização interna. 

“Olhar só para o contexto político é olhar para um elemento que talvez nem seja o mais explicativo, mas que certamente está presente. E esquecer toda uma outra discussão que é muito complexa, que são os fatores legais e jurídicos envolvidos”, explica Annelise Vendramini, líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade, com exclusividade para a Conexão ESG. 

Desde 2024, políticos republicanos vêm atuando em múltiplas frentes para questionar as diretrizes ESG adotadas pelo setor, desde inquéritos estaduais contra instituições específicas até a solicitação em bloco por 22 estados de informações a bancos signatários de alianças climáticas do setor financeiro. 

Em novembro do ano passado, investimentos feitos por grandes gestoras de ativos condicionados à redução da exposição ao carvão foram questionados judicialmente por vários estados. Em outra frente, o comitê judiciário da Câmara dos Representantes dos EUA, liderado por republicanos, acusou empresas financeiras de conspirarem para "impor metas ESG radicais" às empresas americanas. 

Para Vendramini, a judicialização crescente impôs uma análise de custo-benefício às empresas. “Além dos elevados custos judiciais, há uma questão reputacional em jogo. O que as empresas estão tentando fazer é uma análise sobre onde perde menos, onde incorre em custos menores, em menos batalhas judiciais”, avalia. A saída de bancos norte-americanos da NZBA (Net-Zero Banking Alliance) e de gestoras de investimentos da NZAM (Net-Zero Asset Managers) reflete um recuo estratégico enquanto as empresas buscam caminhos legalmente válidos, diz a especialista. 

Como funcionam as alianças climáticas 

Em geral, as alianças climáticas da indústria financeira operam sob a Unep FI(Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), que existe desde 1992 e lidera a agenda de investimentos responsáveis. A participação é voluntária, e atualmente tem 560 bancos e seguradoras. 

Ao aderir às alianças, as instituições financeiras não são obrigadas a restringir o financiamento para segmentos específicos – nem mesmo para as empresas que estão fazendo o máximo para expandir a produção de combustíveis fósseis. Mas precisam definir metas para setores de alta emissão de GEE (gases de efeito estufa), que as alianças recomendam que estejam alinhadas a 1,5°C de aumento no aquecimento global. Recentemente, a GFANZ lançou uma série de orientações padronizadas para guiar a transição do setor financeiro para uma economia de zero carbono, mas na prática cada instituição trabalha com suas próprias metas.

Alianças climáticas globais do setor financeiro. Coalizações têm compromisso com metas de zero emissões até 2050; adesão é voluntária.

  • GFANZ (Glasgow Financial Alliance for Net-Zero)
    Coalizão climática global independente do setor financeiro, tem atuação focada em suprir três gaps: dados, ações de transição e mobilização de investimentos. Foi criada em 2021 para apoiar os esforços do setor para atingir os objetivos do Acordo de Paris.
     
  • NZBA (Net-Zero Banking Alliance) 
    Maior aliança climática global do setor bancário, integrada por mais de 100 bancos de 144 países, com mais de US$ 71 trilhões em ativos. Em janeiro, anunciou que está explorando “como melhor ajudar seus membros a gerirem suas estratégias e riscos”.
     
  • NZAM (Net-Zero Asset Managers)
    Grupo internacional de gestores de ativos criado em 2020 e composto por seis redes de investidores; suspendeu as atividades em janeiro de 2025 para revisar sua atuação.
     
  • NZAOA (Net-Zero Asset Owner Alliance)
    Aliança global que reúne 88 investidores institucionais com cerca de US$ 9,5 trilhões em ativos sob gestão.
     
  • NZFSPA (Net-Zero Financial Service Providers Alliance) 
    Aliança que reúne desde bolsas de valores e plataformas de negociação de ativos até agências de classificação de risco e empresas de auditoria.
     
  • NZIA (Net-Zero Insurance Alliance) 
    Aliança com 558 seguradoras de diversos países, foi descontinuada em abril de 2024.
     
  • NZICI (Net Zero Investment Consultant Initiative) 
    Aliança de consultores de investimentos lançada em 2021 com 12 membros, entre empresas e investidores; atualmente tem 11 participantes.
     
  • PAAO (Paris Aligned Asset Owners)
    Grupo global com 57 detentores de ativos que somam mais de US$ 3,3 trilhões em ativos.
     
  • VCA (Venture Climate Alliance) 
    Aliança criada em 2023 com 23 empresas líderes na indústria de venture capital com mais de US$ 60 bilhões em ativos; atualmente tem 16 participantes.
     
  • NZECA (Net-Zero Export Credit Agencies Alliance) 
    Grupo criado em 2023 que reúne nove agências e bancos de crédito para exportação.
     

Fonte: Unep FIGFANZ

Análise de risco climático continuará a orientar o setor

Em artigo recente, o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, que atualmente preside o conselho do Climate Finance Hub e é vice-presidente do conselho consultivo da GFANZ para América Latina e Caribe, afirma que, mesmo fora de alianças, a gestão de risco climático continuará a orientar muitas instituições americanas. 

Fotografia de Cacá Takahashi, um homem japonês, que veste terno bege e camisa azul marinho. Ele segura um microfone e sorri."Enquanto os EUA diminuem a velocidade na agenda ESG, a Europa continua ampliando esforços, sempre considerando o impacto financeiro das mudanças climáticas. Esses dois ambientes de negócios influenciam bastante o Brasil e a ANBIMA está atenta a esses movimentos", afirma Cacá Takahashi, diretor da ANBIMA e coordenador da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.

"Estamos desenvolvendo uma agenda pragmática com iniciativas focadas na gestão dos riscos climáticos pelas instituições financeiras, como parte dos nossos esforços rumo a dois grandes marcos ESG que viveremos no país este ano e que estão conectados: o PRI In Person e a COP 30", explica o diretor, contando que a Associação deve lançar, em breve, uma jornada de conhecimento sobre o tema. "Nosso objetivo é que o mercado esteja cada vez mais preparado para identificar e gerir riscos, incluindo aqueles ligados ao clima e à natureza, pois eles são materiais e trazem impactos financeiros relevantes para a indústria de investimentos". 

Fotografia de Annelise Vendramini, uma mulher branca, de cabelos longos e pretos. Veste um paletó preto e uma camisa social branca.Vendramini concorda que não há mais como deixar de analisar o risco climático das operações. "As mudanças climáticas são uma realidade, e seus efeitos estão cada vez mais evidentes. Diante desse fato, não há como ignorar a materialidade os riscos envolvidos. Por isso, acredito que esse assunto continuará presente na agenda", explica a líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade.

Os posicionamentos das instituições americanas que deixaram a NZBA e a NZAM endossam essa avaliação, com bancos e gestoras de investimentos reforçando o compromisso com as metas de emissões zero e mantendo a assistência aos clientes para descarbonizar suas atividades. E, de qualquer forma, lembra Vendramini, essas instituições terão de observar a Sustainable Finance Disclosure Regulation da UE (União Europeia) para continuar a operar no bloco, por exemplo. 

Um notebook com imagem da nota divulgada no site da GFANZ com o título em inglês A própria GFANZ anunciou, em nota, que pretende conversar com governos e reguladores para ajudar a remover barreiras regulatórias ao investimento do setor privado e desenvolver ambientes de políticas favoráveis a nível global.

"Superar barreiras para mobilizar capital na escala e velocidade necessárias para atingir o zero líquido é urgente e possível. A GFANZ está firme em seu compromisso de apoiar instituições financeiras em todo o mundo para enfrentar esses desafios e aproveitar as oportunidades deste momento crucial”, afirma a Glasgow Financial Alliance for Net Zero, em nota

Compromisso baseado em regulação robusta

Para atuar em linha com as metas de emissões zero até 2050 e limitar o aquecimento global a 1,5Cº, as instituições dependem do ambiente regulatório em que operam. No caso do Brasil, o ex-ministro Joaquim Levy acredita que a regulamentação financeira sólida e robusta tem potencial para destacar o sistema financeiro local em mercados internacionais. 

“No Brasil, quase toda finança é, em última instância, verde, dados os riscos e oportunidades aos quais está sujeita”, afirma, citando a integração de critérios socioambientais e de governança na regulamentação financeira do Banco Central e da CVM (Comissão de Valores Mobiliários).

Para avançar no financiamento climático, o foco em transparência e métricas confiáveis é essencial, diz Levy. As oportunidades dessa agenda são estimadas pela GFANZ em mais de US$ 5 trilhões por ano, criadas por países que modernizam seus sistemas de energia fazendo a transição para uma economia de baixo carbono.