Um bom futuro tecnológico depende de preservarmos a nossa humanidade

Como todo bom futurista, o alemão Gerd Leonhard acredita que seu trabalho de mapear cenários futuros não tem como principal finalidade prever exatamente como ele será, mas sim preparar as pessoas para chegarem melhor até ele. Também é necessário ficar atento às armadilhas que o futuro traz. "Precisamos abraçar a tecnologia, mas não nos tornar tecnologia. Porque nossa maior vantagem não é ser como a tecnologia. Nossa maior vantagem é ser o oposto da tecnologia. Se você trabalha como um robô, vai ser substituído por ele", diz o futurista.
A chave para antecipar potenciais futuros, diz Leonhard, é treinar o cérebro para reconhecer as potenciais mudanças. "Ler e educar-se faz parte do trabalho. Isso muda nossa mentalidade e nos permite abraçar as novas tecnologias e oportunidades que surgem”, disse o futurista em um evento recente, no México.
O bom futuro
Em 2015, Leonhard publicou o bestseller Technology vs Humanity: The Coming Clash Between Man and Machine, no qual antecipou muitos movimentos que vivemos atualmente, especialmente em relação à inteligência artificial e à IA generativa, pedindo atenção redobrada para a ética digital (digital ethics), um ponto que se torna cada vez mais relevante para garantir a boa convivência entre humanidade e tecnologia.
Em outubro de 2022, Leonhard lançou o projeto Good Future (o bom futuro), que inclui um curta-metragem (que pode ser visto no YouTube), um site específico, manifestos e apresentações. Nos próximos dez anos, teremos mais transformações que nos últimos 100 anos, lembra o futurista. O presente precisa passar por mudanças significativas, porque, segundo ele, “o mundo que temos não serve ao futuro, o capitalismo não serve ao futuro”.
O mantra de Leonhard é “pessoas, planeta, propósito, prosperidade”. Esses quatro elementos precisam ser atendidos ao mesmo tempo, porque a falta de um impacta diretamente nos outros três. Do ponto de vista econômico e financeiro, diz ele, o capitalismo precisa de um "restart" (uma reinicialização) com novos tipos de dividendos e um novo tipo de mercado de capitais.
O mercado verde dos créditos de carbono, por exemplo, faz parte desses novos contextos, assim como a economia de stakeholders. "Acho que uma coisa que estamos percebendo é que se o mercado financeiro, as empresas e os países continuarem focados apenas em crescimento e lucro, podemos ter uma espécie de implosão, porque tem um teto. Temos que tirar essa tampa e permitir que isso se expanda. A tecnologia é a ferramenta que nos permite tirar essa tampa", argumenta.
Como a tecnologia não tem consciência, a direção tem que ser dada pelos humanos, e os resultados - bons ou ruins - vão depender do foco que for dado para pessoas, planeta, propósito (especialmente o corporativo) e prosperidade (para todos).

São três os pilares que vão nortear o futuro:
- Mudanças climáticas - aquecimento global, sustentabilidade, descarbonização, transição para energia limpa, combate à poluição e proteção do meio ambiente, combate à extinção de espécies...
- Tecnologia e humanidade - ética digital, regulamentação tecnológica, futuro da IA/IA geral, edição do genoma humano, longevidade, transumanismo, futuro do trabalho e empregos...
- Future-fit economics - capitalismo sustentável, economia de stakeholders e economia circular, uma nova lógica do mercado de ações, o futuro da (geo)política, consciência global...
Ainda, para ele, as quatro transformações mais relevantes para o futuro das organizações, que merecem atenção e investimento, são: tecnologia da informação; energia e clima; biotecnologia; e inteligência artificial.
A IA entra na equação
“O desenvolvimento dessas tecnologias transformadoras funcionará como uma faca de dois gumes, com a perda de empregos devido à automação”, alerta. No entanto, embora alguns empregos desapareçam, outros serão criados para atender à demanda exponencial gerada por essas transformações.
Tarefas que não exigem criatividade, coordenação ou qualquer interação humana serão entregues às máquinas para manter a eficiência. “As máquinas estão tomando conta da rotina, mas isso não é o fim do trabalho humano”, afirmou.
Para falar sobre o futuro impactado pela IA, IA generativa e, mais preocupante, a AIG - inteligência artificial geral que, ainda no terreno hipotético, geraria uma máquina capaz de pensar e tomar decisões como humanos -, o futurista está terminando um novo documentário de ficção, dirigido por Christopher Sean Nolan, chamado LookUp Now, que será lançado em agosto.
O primeiro trailer do filme foi liberado esta semana e pode ser visto no site especial criado para promover o conteúdo. O curta-metragem de 23 minutos, que faz um vai-e-vem entre 2023 e um hipotético 2057, servirá como piloto para uma série de TV sobre inteligência artificial que a dupla está desenvolvendo.
Para saber mais sobre as ideias de Gerd e o que o futuro nos reserva, inscreva-se para a experiência completa do ANBIMA Summit. O evento acontece na Oca do Ibirapuera, em São Paulo, nos dias 16 e 17 de agosto.
Para o seu radar
- Para conhecer mais as ideias de Gerd Leohnard sobre inteligência artificial, vale conferir a playlist de apresentações curtas montadas por ele no seu canal do YouTube.
- Como será o mundo em 2030? Os futuristas Gerd Leonhard e Anton Musgrave debatem a questão.
- Na edição mais recente da newsletter do próprio Gerd, ele selecionou dezenas de fontes que consultou para entender melhor a IA. Vale conferir.