<iframesrc=" ns.html?id="GTM-MZDVZ6&quot;" height="0" width="0" style="display:none;visibility:hidden"> Tudo o que aconteceu no SW24 – ANBIMA

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2024#14 Mercado de capitais discute finanças sustentáveis em Manaus
Regulação Internacional

2024

#14 Mercado de capitais discute finanças sustentáveis em Manaus

Tudo o que aconteceu no SW24

O tamanho do desafio em números

Para convencer os profissionais do mercado de capitais sobre a urgência de investir na transição para uma economia de baixo carbono com impactos sociais positivos, é fundamental traduzir o desafio climático em números claros e objetivos. Um estudo recente da CPI (Climate Policy Initiative) estima que os fluxos anuais de financiamento climático no mundo somaram US$ 1,3 trilhão entre 2021 e 2022, o dobro do registrado no biênio anterior. No entanto, a CPI projeta que o financiamento necessário deve atingir entre US$ 8,1 trilhões e US$ 9 trilhões anuais até 2030.

Ao longo dos debates na SW24, ficou claro que a maior participação do capital privado na transição para uma economia de baixo carbono depende basicamente de três fatores:

  • Qualificação dos profissionais do mercado de capitais para o uso de novos instrumentos financeiros que podem viabilizar projetos; 

  • Enfoque social para contornar graves problemas estruturais nas regiões onde estão localizadas oportunidades;

  • Arcabouço regulatório que garanta uma governança transparente e segurança para investidores.

Segundo Carole Sanz-Paris, chefe de Mercado de Capitais de Dívida e Financiamento Estruturado do BID Invest, a América Latina representa apenas 4% do mercado global de títulos sustentáveis, que reúne cerca de US$ 3 trilhões em ativos. O que pode parecer baixa atratividade para alguns, significa potencial de negócios para outros. 

José Pugas, sócio e head de ESG da JGP, afirmou que a baixa participação do Brasil nesse mercado também representa uma oportunidade. Ele destacou que a JGP e o BB Asset, gestora do Banco do Brasil, uniram-se para criar uma nova gestora focada em investimentos sustentáveis. A meta é alcançar R$ 22 bilhões em ativos sob gestão até 2028 e ser a maior gestora do segmento no sul global.

Visão que se alinha às palavras de Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, durante mensagem transmitida por vídeo na abertura da SW24. Gore lembrou que 80% do financiamento climático para países em desenvolvimento deverá ser privado. 

Como exemplo da urgência do engajamento dos investidores, ele destacou os impactos das inundações no Rio Grande do Sul, que além das mais de 170 vidas perdidas, provocaram prejuízos financeiros significativos.

Os números para o financiamento climático foram citados por Annelise Vendramini, líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade, durante painel que tratou de soluções financeiras inovadoras para dar escala aos investimentos ESG.

A importância da abordagem socioambiental

A urgência de combater as mudanças climáticas e a crescente demanda por soluções sustentáveis estão impulsionando uma transformação significativa no mercado de capitais. Nesse cenário, América Latina e Caribe, regiões com grandes desafios, como a desigualdade social e a degradação ambiental, são os destinos prioritários para aportar esses recursos que não só contribuem para a mitigação de problemas globais, como também criam oportunidades econômicas e sociais inovadoras. 

Os investimentos de impacto combinam retornos financeiros com a criação de valor social e ambiental, gerando um círculo virtuoso onde o capital é direcionado para projetos que enfrentam desafios globais enquanto proporcionam retornos aos investidores. Essa abordagem foi amplamente discutida no evento, com destaque para o painel de James Scriven, CEO do BID Invest, que enfatizou a importância de incluir todos os atores nos processos decisórios para ampliar o impacto positivo. “Bancos multilaterais de desenvolvimento e bancos de fomento regionais têm mobilizado esforços para viabilizar esses projetos de impacto”, citou.

O BID Invest, por exemplo, firmou parcerias com o setor privado para viabilizar projetos de impacto na América Latina e Caribe, como por exemplo um empréstimo de US$ 30 milhões ao Sicredi para apoiar micro, pequenas e médias empresas gerenciadas por mulheres, destinando US$ 5 milhões exclusivamente para a região amazônica. 

No Brasil, o BNDES atua com várias iniciativas, incluindo o Fundo Amazônia, que já aportou R$ 2 bilhões, beneficiando mais de 200 mil pessoas. Também possui apoio à estruturação de soluções para parques e florestas com a possibilidade de atrair investimentos da ordem de R$ 12 bilhões para áreas públicas, principalmente na Amazônia. 

Todos esses programas têm em comum o impacto social positivo que geram nas regiões em que atuam, mas especialmente na Amazônia, que tem enorme carência de recursos, desde microcrédito até saneamento. A importância dessa abordagem foi resumida pelo governador do Amazonas, Wilson Lima, logo na abertura da SW24.

“Preservação não combina com pobreza. O povo do Amazonas precisa do mínimo, do básico, de água potável, de saúde, de educação, de comunicação. Precisa de oportunidade, de geração de emprego”, disse o governador, lembrando que os investidores interessados na região Amazônica precisam de solidez no ambiente regulatório

Regulação como fator de confiança

Nesse sentido, o arcabouço normativo brasileiro foi amplamente citado como referência na América Latina e Caribe durante a Sustainability Week 2024. A CVM, que tem desempenhado um papel decisivo nesse processo, foi destaque por causa da Resolução 193, que trata do reporte de sustentabilidade e controle da mudança climática. A resolução adotou as normas do ISSB (International Sustainability Standards Board) como padrão para as companhias brasileiras darem transparência aos seus dados.

João Pedro Nascimento, presidente da CVM, enfatizou que essa resolução coloca o Brasil em evidência no cenário mundial e lembrou que a Resolução 175 consolidou normas esparsas em um único arcabouço, abordando temas de sustentabilidade e combatendo o greenwashing, o que reforça a integridade e a transparência do mercado financeiro brasileiro.

Em apoio a esses esforços, vale lembrar que a ANBIMA lançou em setembro de 2023 a Rede ANBIMA de Sustentabilidade, reunindo profissionais do setor, especialistas, acadêmicos e representantes da sociedade civil. A Rede complementa uma série de ações realizadas pela ANBIMA, como o Guia para Oferta de Títulos Sustentáveis, que contribui para estabelecer padrões no mercado nacional, e a inclusão de temas relacionados a boas práticas ESG em exames de certificação para os profissionais do mercado.

Zeca Doherty, diretor-executivo da ANBIMA, salientou durante o evento que, embora o cenário regulatório esteja bem estabelecido, é crucial que os investidores se aprofundem no funcionamento dos instrumentos disponíveis para maximizar seu impacto positivo.

Para ele, a proatividade e a criatividade do setor financeiro são essenciais para oferecer mecanismos eficazes de financiamento para a agenda climática e o desenvolvimento sustentável.

Soluções para alavancar o capital

Para além de iniciativas dos bancos de desenvolvimento, e por mais que o capital privado esteja começando a fluir para fundos que fomentem a conservação e a recuperação ambiental ou o impacto social positivo, um dos pontos mais tratados na SW24 foi a necessidade explícita de estruturação de instrumentos como a negociação de créditos de carbono e o potencial das Soluções baseadas na Natureza (SbN) para impulsionar o desenvolvimento sustentável. 

As SbN utilizam processos naturais para restaurar ecossistemas e promover a agricultura regenerativa, oferecendo benefícios tanto ambientais quanto econômicos.

Durante o evento, Ilan Goldfajn, presidente do BID, ressaltou que a restauração de manguezais e florestas pode gerar créditos de carbono comercializáveis no mercado global, criando novas fontes de receita. A urgência de regulamentar o mercado de carbono no Brasil foi um consenso entre os participantes, visando dar maior segurança jurídica e atrair investimentos para projetos de conservação.

Ilona Szabó de Carvalho, que preside o Instituto Igarapé, enfatizou a necessidade de reconhecer o valor financeiro da conservação e do uso sustentável dos recursos naturais.

Ela destacou que, embora seja difícil quantificar o valor intrínseco da natureza, é crucial desenvolver mecanismos que atribuam um preço aos serviços ecossistêmicos para incentivar investimentos sustentáveis.

A Amazônia, com sua vasta biodiversidade e importância ecológica, foi identificada como uma região prioritária para a implementação das SbN. Durante a SW24, a AFN (Rede Financeira da Amazônia) realizou em Manaus a primeira reunião desde a sua criação, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29). Na ocasião foi lançado o Tambaqui Tanque, programa inspirado no reality americano Shark Tank. Cerca de 70 propostas de negócios foram apresentadas e 30 já receberam sinal verde do BID Invest para aceleração.

Leia o novo relatório Re-imagining bioeconomy for Amazonia, lançado pelo BID em parceria com o Instituto Igarapé sobre a bioeconomia da região amazônica.

Mais velocidade para o blended finance

Outro instrumento com potencial para estimular o fluxo de capital privado para os investimentos sustentáveis é o blended finance, que combina recursos públicos, de fomento ou filantrópicos com capital privado para financiar projetos de impacto positivo social, ambiental e econômico. Mas houve consenso na SW24 que o modelo de financiamento ainda enfrenta desafios.

Segundo André Carvalhal, diretor de Fundos de Crédito e Blended Finance do BNDES, das 11 propostas aprovadas em 2022 pelo banco para utilizar o mecanismo, apenas uma foi aprovada até agora.  "Por que demora tanto? Importante pensar que blended finance é um desafio: nós temos uma única estrutura, não há similar. Algumas usam debêntures, outras usam o CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários), outras usam o CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). Tudo isso requer muita atenção na análise de cada projeto. O que nós estamos tentando fazer é tornar isso mais simples", disse.

Em 2022, o BNDES selecionou 11 parceiros em sua primeira chamada pública de blended finance, direcionando recursos para iniciativas nas áreas de bioeconomia florestal, economia circular e desenvolvimento urbano. Esses projetos totalizam R$ 246 milhões em recursos demandados e representam uma abordagem estratégica para integrar capital público e privado em prol de objetivos comuns.

Durante o evento, foi discutido como o blended finance pode ajudar a mitigar riscos e atrair investidores privados para projetos que, de outra forma, poderiam ser considerados muito arriscados ou de retorno incerto. Para Carvalhal, embora ainda enfrente desafios, esse modelo de financiamento tem grande potencial para escalar investimentos sustentáveis.

Um caso bem sucedido apresentado durante a Sustainability Week foi o investimento conjunto do BID Invest e da DFC (Development Finance Corporationde) de US$ 23 milhões em capital na plataforma de micromobilidade Tembici, para apoiar a expansão dos serviços de compartilhamento de bicicletas na América Latina. A empresa tem fábricas em Manaus e em Extrema (MG), e recebeu no ano passado um financiamento de R$ 160 milhões do BNDES para ampliar a capacidade de produção. Desse total, metade tem como origem recursos do Fundo Clima, instrumento da Política Nacional sobre Mudança do Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.

Outro exemplo interessante de blended finance, e de alto impacto na região amazônica, é o projeto lançado durante a COP 28, em 2023, da JGP em parceria com o Fundo Vale e implementado pela Belterra Agroflorestas, que visa recuperar 4 mil hectares de áreas degradadas na Mata Atlântica e na Amazônia. Com um investimento inicial de R$ 130 milhões e potencial de alcançar até R$ 1,5 bilhão até 2030, o projeto utiliza o blended finance para equilibrar risco, retorno e impacto, promovendo recuperação ambiental e desenvolvimento econômico local.

O Mecanismo de Financiamento “Amazônia Viva”, desenvolvido pela Natura em parceria com a VERT Securitizadora e o FUNBIO (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) é mais um exemplo de blended finance em ação. Com um aporte inicial de R$ 12 milhões, o projeto beneficia dez cooperativas e associações agroextrativistas na Amazônia, impactando positivamente mais de 1.800 famílias. Este mecanismo combina CRAs e um fundo de recursos não reembolsáveis, proporcionando capital de giro e assistência técnica para fortalecer as cadeias produtivas da região.

Fernanda Camargo, diretora da ANBIMA e líder da Rede ANBIMA de Sustentabilidade, ressaltou a necessidade de maior assistência técnica e prazos mais longos para que o blended finance possa atingir seu pleno potencial.

Ela destacou que o apoio dos MDBs (Bancos Multilaterais de Desenvolvimento, na sigla em inglês) e DFIs (Instituições Financeiras de Desenvolvimento, também na sigla em inglês) é crucial para consolidar o modelo e ampliar sua adoção pelo mercado de capitais tradicional.

Essas discussões reforçam que, para transformar desafios em oportunidades, é essencial desenvolver mecanismos financeiros inovadores que possam atrair capital privado e promover investimentos sustentáveis. O blended finance se destaca como uma ferramenta promissora para alcançar esses objetivos e catalisar o desenvolvimento sustentável na América Latina e no Caribe.

Inclusão com o uso da tecnologia

Nesse contexto, a inovação tecnológica surge como um pilar essencial para complementar os esforços de financiamento sustentável e governança eficaz. Durante a Sustainability Week 2024, ficou evidente que tecnologias emergentes podem desempenhar um papel bastante importante na democratização do acesso a mercados e a produtos sustentáveis. A capacidade dessas tecnologias de reduzir custos e aumentar a transparência foi amplamente discutida, destacando seu potencial para impulsionar a inclusão financeira e a sustentabilidade.

O blockchain, por exemplo, facilita o acesso a mercados e produtos, avaliou Bernardo Srur, diretor-presidente da ABCripto. “Uma coisa interessante que nós vimos com a evolução da tecnologia blockchain é justamente a tokenização das finanças verdes, possibilitando que as empresas tenham acesso mais simples, mais fácil a esses novos produtos”.

Eric Altafim, diretor da ANBIMA, reforçou a ideia de que a tokenização de ativos, na qual um token representa digitalmente um bem real, impulsiona o financiamento de projetos sustentáveis.

Ele explicou que o processo permite que investidores adquiram frações de ativos ligados a iniciativas como energia renovável e conservação de recursos naturais. “A tecnologia de blockchain vai permitir que se faça uma desintermediação ainda mais forte, que é baratear os custos dos processos e fazê-la chegar para mais gente”, explicou durante o evento.

Ao mesmo tempo, é um instrumento de inclusão, na medida que permite que mais pessoas invistam em ativos sustentáveis, com monitoramento do ciclo de vida de produtos ecológicos e padrões de sustentabilidade em toda a cadeia produtiva.

Ao final da Sustainability Week 2024 é possível afirmar que o futuro sustentável depende da colaboração entre governos, empresas, investidores e comunidades locais. Como enfatizou James Scriven, CEO do BID Invest, “a mudança começa com a gente. Vamos fazer a diferença juntos”​​. A integração de investimentos de impacto, Soluções baseadas na Natureza, inovação tecnológica e governança eficaz pode transformar desafios em oportunidades, assegurando um futuro próspero e sustentável para todos.

Os principais painéis da Semana podem ser vistos nos links abaixo:

Após a SW24, o coordenador da Rede ANBIMA de Sustentabilidade e diretor da instituição, Cacá Takahashi, apresentou uma visão geral dos debates sobre instrumentos inovadores de financiamento.